
Todos os animais criados para a produção, um dia serão abatidos, mesmo os criados para a produção de leite, ovos, lãs, etc. Só no Brasil, cerca de 5,6 bilhões de bovinos, suínos e aves são abatidos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso, sem contar outros animais, como os peixes. “Quando eu decidi me tornar vegana foi um processo mais complexo porque você tem que ser mais cuidadoso com o que vai comer, já que o veganismo vai além da alimentação, então tem que tomar cuidado com a roupa, sapato, produtos de beleza, etc”, explica Lidiane Oliveira, cuja mãe e irmã tornam-se vegetarianas posteriormente.
No Brasil, aproximadamente 95% das galinhas usadas para produzir ovos ficam em gaiolas menores que uma folha A4 (21 x 29,7 cm), sem poder andar ou sequer esticar completamente suas asas, de acordo com o site vegano Veggo. Com as porcas, não é diferente: 99% da produção nacional é feita em gaiolas, na qual o animal só pode levantar-se e deitar-se.
Com essas informações, fica visível que apenas parar de comer carnes não basta para parar com o sofrimento animal “quando virei vegetariana, a minha questão era dizer não ao sofrimento animal e naquele momento eu tinha uma mentalidade que se eu não comesse carne, tudo bem. Mas, passei a ter acesso às informações e vi que a indústria do leite, por exemplo, causa mais mal ao animal, do que a própria indústria da carne” conta Lidiane. Para a vaca estar em constante produção de leite, é preciso inseminá-la artificialmente, pois ela não produzirá leite se não houver um bebê para amamentar: “a mãe produz o leite materno para o bebê, assim como a vaca produz para seus filhotes, e não para o ser humano”, reforça Lidiane.
Enquanto muitos dizem que as vacas precisam engravidar uma única vez, de acordo com o site O Holocausto Animal, elas são inseminadas a cada ano, com o intuito de manter a produção de leite a mais alta possível. Isso sem mencionar o lucro com a venda dos seus bebês para a indústria de vitela. “O feminismo e o veganismo se alinham nesse sentido: a vaca sofre, assim como a mulher. É obvio que o sofrimento é diferente, mas ainda assim é um sofrimento. Também tem a questão de a carne estar muito ligada à masculinidade, de que os homens tem que reafirmar esse poder masculino em cima das mulheres”, comenta Mariana Dandara, feminista, e vegana há três anos.
Sendo assim, entende-se o porquê de o veganismo ser visto como uma filosofia e não apenas como uma dieta (que é o caso do vegetarianismo). O veganismo se envolve muito com o cotidiano da indivíduo - com seus comportamentos, forma de pensar e visão do mundo. De acordo com o site sobre consumo consciente Ecycle, uma das discussões mais debatidas entre os veganos, por exemplo, é em relação com os animais que trazem algum tipo de perigo a vida dos seres humanos . De um lado, dizem que todos os animais têm direito à vida e do outro, o argumento de que o problema é arriscar a nossa saúde por eles, isso seria extremismo e até imprudência. Ou seja, há discussões dentro do próprio movimento, sempre com a intenção de fazer com que mais pessoas desconstruam percepções impostas pela sociedade.
Por isso, a importância do ativismo vegano. O ato de tornar-se vegano já é uma forma de militância, pois o indivíduo passa a ter práticas diferentes em prol de uma causa. Há também a divulgação da ideologia e a conscientização de que a pessoa vegana não passa vontade; ele simplesmente não quer, porque a vida dos seres vivos é mais preciosa.
E como se tornar vegano?
Da mesma forma que é ruim comer carne ouvindo sobre crueldade, é ruim comer legumes ouvindo sobre falta de proteínas. Ao invés de debochar, procure ouvir o que as pessoas têm a dizer. A informação é a chave para aderir a qualquer ideologia.
Desde 2009, existe no mundo a campanha Segunda Sem Carne, que “se propõe a conscientizar as pessoas sobre os impactos que o uso de carne para alimentação tem sobre o meio ambiente, a saúde humana e os animais, convidando-as a tirar a carne do prato pelo menos uma vez por semana e a descobrir novos sabores”, segundo o site oficial. A segunda-feira foi escolhida como o “dia sem carne” devido à alta tradição de consumo de carnes no Brasil aos finais de semana. Portanto, as pessoas estariam mais propensas a comer algo mais leve na segunda-feira. No país, a campanha foi lançada pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) em parceria com a Secretaria do Verde e Meio Ambiente (SVMA) de São Paulo.
Como o modo de pensar afeta o modo de viver
Texto: Caroline Luppi
Vídeo: Caroline Luppi