
Comerciantes e empreendedores apostam no mercado de produtos veganos
De acordo com o Google Trends, entre 2010 e 2015, a procura pela palavra “veganismo” quadruplicou. Esse número demonstra que as pessoas têm curiosidade e buscam informar-se a respeito desse estilo de vida. Embora não se tenha dados consistentes sobre o veganismo em si, percebe-se um aumento no número de vegetarianos. O mercado percebeu a demanda e procura, de diversas formas, saná-la. Exemplo disso é o crescimento de estabelecimentos autointitulados vegetarianos. De acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística (Ibope), 8% da população brasileira declara-se adepta ao vegetarianismo.
Segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), a cada semana, surgem cerca de 2.000 vegetarianos e veganos. O setor de vestuário e cosméticos também sentiu a necessidade de conectar-se com o público consumidor mais consciente ecologicamente, visto que, de acordo com dados da última pesquisa do erviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), artigos veganos tiveram aumento de 60% de vendas.
A economista Karine Cordeiro de Freitas explica que algumas especificidades devem ser levadas em consideração, como o nicho de mercado, com muito potencial a ser explorado no Brasil. Além disso, ela explica que “é um ramo que, de certa forma, é relacionado tanto à beleza, saúde e alimentação e estes são setores que, tipicamente, independentemente de haver ou não crise, vão continuar expandindo os seus gastos”. No entanto, a especialista ressalta a importância de levar em consideração o perfil do cliente: “além de ser socialmente mais abastado, o público-alvo deste setor é também bem informado”, afirma Karina.
Veganismo por ideologia
Maria Castellano e Cabeto Rocker apostaram no setor algum tempo atrás e foram precursores do movimento do mercado. O casal vegano é dono do “COMO?”, que não é apenas um restaurante, mas sim o que eles chamam de “espaço físico educador”. O lugar existe fisicamente há um ano, mas Maria relata que desde criança sofria grande incômodo relacionado à questão da exploração animal. “Desde sempre tinha uma questão com os animais que me incomodava, desde criança, de pensar em bichos abandonados, cavalos puxando carroça”, conta Maria.
De família argentina, a cultura da carne esteve presente em toda a vida de Maria. Depois de adulta, começou a adotar o vegetarianismo de maneira intuitiva até começar a buscar mais informação e encontrar o veganismo. Ela conta que, muitas vezes, precisou comer proteína animal por se sentir constrangida ou por não querer magoar entes queridos, situações comuns na vida dos veganos.
Oito anos atrás, após assistir um documentário, a engenheira de Produção Agroindustrial procurou mais informações e começou a questionar-se, inclusive profissionalmente. Maria passou por episódios em que se viu frente a dilemas éticos, como visitas a fábricas de abate de animais. “Fiquei chateada. Me senti isolada no que sentia”, relembra. Na época, ainda não conhecia nenhum vegano e achava ser uma realidade abstrata.
Em 2012, durante o Encontro Nacional de Direitos dos Animais (ENDA) veio a convicção do veganismo: “entendi que era possível e que já tinha muita gente aqui no Brasil fazendo isso. Ficou muito claro para mim que era o posicionamento ético com o qual eu me encontrava diante do mundo”. Hoje, Maria Castellano conta que a família respeita seu estilo de vida e que, recentemente, sua irmã resolveu adotá-lo também. Para Maria, o crescimento do veganismo é uma questão de tempo. “Acho que pessoas que são intelectualmente capazes, que têm um mínimo de sensibilidade, quando começam a acessar informação sobre o que está acontecendo, é quase impossível elas ficarem completamente inertes", ela explica.
O incômodo de Maria também foi comum a Cabeto. A família de Cabeto é gaúcha e ele, assim como a esposa, também cresceu diante da cultura da carne. Ele lembra de quando precisava comer, mas, na verdade, queria rejeitar a comida. Aos poucos, o proprietário do “COMO?” entrou em contato com pessoas alternativas, antes mesmo do termo “veganismo” ter se difundido no Brasil. Depois de vir morar em Campinas, entrou em contato com pessoas crudíveras (pessoas que só comem alimentos crus, in natura) e teve acesso a restaurantes alternativos.
Cabeto também participou do ENDA, onde teve contato com palestras, oficinas e rodas de discussão. “O que mais me tocou foram os depoimentos”, ele conta e relembra de um deles: uma menina, com menos de vinte anos que tinha processos por libertar animais de empresas. “Ela estava defendendo a vida”, afirma surpreendido.
A ideia do “COMO?” é proveniente de uma ONG, a Garoa Cultural, existente desde 2006. O nome do espaço educador vegano surgiu diante de inúmeras perguntas sobre como ter um estilo de vida vegano. Assim surgiu o local, que não é restaurante, mas também não é loja. “Tudo para mostrar que é possível”, explica Cabeto. O sócio-proprietário conta que, apesar de ter feito uma pesquisa de mercado muito simples, o negócio vem dando certo. “O que temos notado é um grande crescimento desse segmento”, relata. (21 min do áudio)
Cabeto também explica que os clubes de assinaturas de produtos veganos, vídeos de pessoas que contam sua rotina vegana (hiperlinkar pro bloco da Manu) e até mesmo aplicativos veganos vêm ganhando popularidade. “Pro veganismo não há volta (...) Acho que o crescimento do veganismo é irreversível”, afirma otimista.
Para ele, o veganismo só evoluiu por conta do acesso à informação e da comunicação. Prova disso é que grande parte do público do “COMO?” vem por indicação, ou seja, informação que é compartilhada. O cardápio é pautado por pratos do dia, mas Maria e Cabeto planejam algumas mudanças futuras, como a possibilidade de mais opções. Segundo os sócios, as massas e a feijoada vegana (bacon vegano, calabresa vegana, feijão, legumes) são pratos que têm muita procura.

Maria Castellano e Cabetto Rocker - veganos e proprietários do COMO? Foto: Manuela Mancilla
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Texto: Rafaela Galvão
Fotos: Manuela Mancilla